O MPLA já NÃO TINHA NINGUÉM EM ARMAS, no terreno. A situação do MPLA no 25 de Abril era a de movimento político pois já não tinha guerrilheiros armados e organizados. Estava reduzido a quadros políticos, a maior parte dos quais fora de Angola, rodeados de modormias e benesses.
por: Miguel Mattos Chaves
Sou Português e envergonho-me do que se passou depois do 25 de Abril de 1974 em Angola.
Meus Caros Amigos,
Até hoje mantive o silêncio sobre o que se passou em Angola, onde prestei Serviço Militar no período de 1973 a 1975.
Mas hoje ... após ver o que está abaixo escrito, em entrevista ... não posso mais ficar calado.
Seria uma Traição à memória de centenas de milhares de civis e militares, negros e brancos, que morreram no período pós-25 de Abril de 1974, em Angola.
Traição, tanto maior quanto o branqueamento que o entrevistado pretendeu fazer sobre o que aconteceu e branqueamento perante a real situação no terreno da Província de Angola.
Vamos a factos:
1 - Desde 1968 que não havia confrontos, dignos desse nome, na província entre as tropas portuguesas e os movimentos terroristas, depois ditos de libertação;
2 - O MPLA já NÃO TINHA NINGUÉM EM ARMAS, no terreno. A situação do MPLA no 25 de Abril era a de movimento político pois já não tinha guerrilheiros armados e organizados. Estava reduzido a quadros políticos, a maior parte dos quais fora de Angola, rodeados de modormias e benesses.
3 - Este movimento reorganizou-se por força das sucessivas traições cometidas após o 25 de Abril, patrocinadas por Oficiais Militares Portugueses do Quartel General que lhes forneceram equipamento e armamento e instrução. A sua base de recrutamento foi a população jovem dos Musseques de Luanda, principalmente.
4 - O oficial que mais responsabilidades teve no processo foi o Almirante Rosa Coutinho, pois foi na sua época que o MPLA conseguiu o apoio e a logística suficientes, para que conseguisse por volta de Julho/Agosto de 1975, "correr de Luanda" com os outros movimentos (FNLA e UNITA).
O "Almirante Vermelho", mais o Pezarat Correia e outros que tais do QG, que deviam ter sido julgados pelo crime de Alta Traição à Pátria, foram quem patrocinou tudo aquilo que tive de aturar e tentar minorar, juntamente com os meus homens, na cidade de Luanda.
Houve noites em que tivemos de acartar mortos dos Musseques para cima das Berliets. Tivemos que defender casas particulares, de escoltar civis até ao aeroporto... etc...etc...
5 - Andei em patrulhamentos com os 3 Movimentos, falei com os seus soldados e oficiais, e sei do que falo!
6 - Dos 3 movimentos:
O MPLA - era constituído por soldados e oficiais recrutados à pressa nos Musseques e armados pelos ditos Oficiais do QG (dito português); Mal sabiam pegar nas armas e disciplina ... nem sabiam o que era;
O FNLA - era constituído por soldados Catangueses, que falavam correctamente o Francês. Alguns ... digo bem, alguns, dos oficiais sabiam falar português;
A UNITA - era constituída por soldados e oficiais disciplinados e com uma hierarquia copiada das nossas forças armadas.
7 - Repito, andei com os TRÊS Movimentos nas viaturas que eu comandava, em acções de patrulhamento em Luanda.
8 - O Dr. Jonas Savimbi tinha sido convidado, em 1973, para Governador da Província de Sá da Bandeira pelo Governo chefiado pelo Prof. Doutor Marcello Caetano. Não aceitou pois preferia ser Secretário Provincial numa de duas pastas: Justiça ou Educação. A UNITA fazia de tampão e colaborava com as forças armadas portuguesas, face a tentativas de infiltração da FNLA.
9 - O FNLA tinha DOIS BI-GRUPOS, no território. A base do Canacassala, ao pé de Nambuangongo, estava de há muito abandonada e desactivada (desde 1970, segundo informações dos homens da JAEA e de outros homens no terreno (não identifico pois não confio no entrevistado e não sei se estes estão ainda vivos);
10 - ESTATÍSTICAS da Região Militar de Angola: 80% dos mortos entre 1961 e 1975 foram desastres de viação; apenas 20% foram mortos em combate. Sucede que só tinham direito a pensão de sobrevivência as famílias dos militares mortos em combate. Logo para não prejudicar as famílias eram os relatórios fechados com a aposição de morto em combate. No meu próprio Batalhão tivemos 8 mortos. TODOS em desastres de viação. No relatório: mortos em combate...
A GUERRA em ANGOLA TINHA ACABADO.
11 - Vamos agora ao MOVIMENTO dos CAPITÃES de que V.Exª devia TER VERGONHA de ter pertencido: 3 reinvindicações dão origem ao Movimento dos pretensos "libertadores":
(A) Melhores salários a pagar a quem estivesse em Z.O. a 100% (Zona Operacional mais perigosa)
(B) Reequipamento em material de guerra e viaturas, das tropas em missão de soberania (citei)
(C) Que os Oficiais do Quadro de Complemento (MILICIANOS como eu) não tivessem acesso à carreira de Oficial do Quadro Permanente.
E foram estes os "NOBRES" motivos do Movimento dos mentecaptos que deram cabo de Portugal, de Angola, de Moçambique da Guiné, etc.... e que são os responsáveis por milhares de mortes nas ex-províncias ultramarinas.
São os responsáveis por milhares de famílias que ficaram sem os seus haveres;
São os responsáveis por 800.000 portugueses, negros e brancos, terem de fugir das suas casas e se virem espoliados dos seus bens;
São os responsáveis por milhares de soldados negros, que serviram sob a sua bandeira: a Portuguesa, terem sido fuzilados após a independência desses territórios, após a fuga dos "Libertadores";
São os responsáveis pelo abandono de Timor e pelo genocídio que em seguida se deu no território,
etc... etc...
Por muito menos teriam sido (por exemplo nos EUA), julgados e condenados à morte, por conivência em Genocídios ou pelo crime de Alta Traição.
E foram em Junho de 1972 para o Terreiro do Paço em manifestação fardada, aproveitando as fraquezas e hesitações do Prof Marcelo Caetano; Fraca figura. Fracos dirigentes ... fazem fraca ... a forte gente.
E, mais uma vez na nossa história, assim foi!
12 - Como essas reinvidicações não podiam ser todas satisfeitas de repente, e como NÃO LHES FOI DADA ATENÇÃO face ao IMPEDIR os OFICIAIS MILICIANOS de acederem ao Quadro Permanente, começaram a conspirar e dasabaram no 25 de Abril. REINVINDICAÇÃO Mais CORPORATIVA que ESTA NÂO CONHEÇO.
13 - A partir de 1973 são manipulados (esses inteligentes capitães e seus idiotas superiores aliados) pelo PCP. Depois foi o que se viu.... Pensavam que sabiam ... os coitados...
14 - O Episódio da Vila Alice!
SENHOR NÂO DIGA ASNEIRAS!
Aliás todo o seu depoimento é vergonhoso, bem digno dos "inteligentes do 25 de Abril".
O Alferes da Polícia Militar, O Furriel da Polícia Militar e os dois soldados da viatura, foram aprisionados pelos esbirros do MPLA, só possível pela conivência da desordem reinante em Luanda e pela cumplicidade activa dos Oficiais do Quartel General.
De imediato o Batalhão de Comandos (estacionado no Grafanil) teve conhecimento, e dois outros batalhões de infantaria, entre os quais o meu, se mobilizaram por ordem dos seus comandantes, que... NÃO alinhavam com os MFosos (os do MFA).
De imediato se montou uma operação coordenada de cerco à Vila Alice (para os que não sabem a Vila Alice era o Quartel General do MPLA) - (SEM O CONHECIMENTO DO QG português) - (Está tudo documentado pela TVE, pois os documentos portugueses já devem ter desparecido) e o Oficial, o Furriel e os Soldados foram resgatados (o Alferes com ferimentos numa perna e num braço foi levado para o HMP de Luanda, onde foi tratado).
15 - Foram mortos 27 homens do MPLA. O resto foi preso "à chapada". Foram desarmados e aprisionados pelas forças portuguesas no terreno (das quais eu, COM MUITA HONRA, fazia parte ... PERCEBEU?).
16 - Comentário do Jornalista da TVE: como é que os Oficiais Portugueses dizem que perderam a Guerra em Angola, depois do que aconteceu hoje? Sem comentários...
17 - Os Comandantes e restantes Militares do MPLA foram soltos por pressões dos Altos Comandos do Q.G.
Senão... teria acabado ali o MPLA. PERCEBEU?
Peço desculpa do tom agressivo com que escrevi estas linhas.
Mas estou farto de mentiras acerca de coisas e factos em que participei activamente. Estou FARTO DE PESSOAS QUE TRAÍRAM A FARDA DAS FORÇAS ARMADAS e A BANDEIRA de PORTUGAL.
Não revelo Nomes de pessoas, pois não sei se ainda estão vivas.
E com gente desta, MENTIROSA, VINGATIVA, nunca se sabe.
Por mim não tenho medo.
O meu nome é Miguel Mattos Chaves, sou Português e envergonho-me do que se passou depois do 25 de Abril de 1974 em Angola.
Por isso tenho estado calado.
Mas se calhar está na hora de falar mais e denunciar os Traidores, Cobardes e Mentirosos.
Se calhar está na hora de divulgar os nomes dos traidores....
Bem hajam por acolherem este meu desabafo. ESTOU a ficar FARTO de ESTAR CALADO...