quinta-feira, 19 de março de 2009

Mais uma bela "Croniqueta" do António Manuel Camacho

PERIPÉCIAS EM CHAVES – 4
Não foi só nas rotas do contrabando que as histórias aconteceram.
Como já referi, em croniqueta anterior, os residentes de Chaves não ajudaram muito na nossa integração, mas não faltou muito para o conseguirmos.
Para isso, muito contribuiu a chegada dos furriéis que iriam fazer parte do nosso Batalhão.
Entre eles quero recordar, pelo seu protagonismo, o João Fardilha e a sua guitarra.
Naquele tempo, na plebe, não havia discotecas, boites, danceterias ou outras casas onde se pudesse tomar um drink fora de horas. Tanto quanto me lembre só havia uma casa de pernoita (!) na rua que nos levava às termas, conhecida pela casa da espanhola (?) os puritanos que me perdoem.
O que conseguimos?
Fazer noitadas de copos, fados e guitarradas.
O grupo era constituído pelo Albuquerque Dias à viola, coadjuvado pelo Morais (?) (penso que era esse o seu nome), pelo Fardilha e pelo Trigo à guitarra. Havia, também, um médico que cantava fados de Coimbra e, mais tarde, um Furriel que tocava trompete.
Transformámos a cidade completamente.
Basta dizer que o Café Sport, estando perto da Pastelaria Aurora, coqueluche da cidade, não tinha grande clientela. Engraçámos com aquela casa e começámos a ir até lá, mais amiúde quando o dono abriu um reservado, entre o café propriamente dito e as traseiras.
Era aí que se cantava o fado até de madrugada, com caldo verde, chouriço assado e tudo.
A dada altura até foi preciso condicionar o acesso ao café e, muito particularmente àquela sala, pois parece que ali caía o Carmo e a Trindade, quando nós lá íamos.
Em 1975 (cinco anos depois), tendo ido com a minha mulher a Chaves, ainda o dono se lembrava de nós.
Mas, para além daquele, quero lembrar outros locais de convívios, desde o Libório, a caminho de Espanha, com o seu jogo do sapo, da tasca do Km 16, com os seus bifes de presunto, de Boticas com as trutas e vinho dos mortos, do Romeu, perto de Mirandela, onde íamos por vezes fazer serenatas às sopeiras que serviam à mesa do restaurante, de …, de …, e de …
Frente à porta de armas do quartel, à hora do toque de ordem, começou a juntar-se um grupo que aguardava a nossa saída, a ver se transportávamos as guitarras e violas. Quando era o caso, normalmente era eu que as transportava, pois nunca toquei nem cantei, sendo esse o meu contributo para as noitadas, lá seguia tudo atrás de nós, qual procissão.
Invariavelmente, as noitadas acabavam tarde e a más horas, mas sempre, sempre num sítio imperdível - a PADARIA.
Ficava a pouco mais de quinhentos metros do Quartel, não sei se ainda lá está, mas, à hora de nós recolhermos (quatro/cinco/seis da manhã), estava em plena laboração. Nem era preciso nada, pão quente, acabado de sair do forno e manteiga que eles já lá tinham. Conclusão - pequeno-almoço tomado. Depois era o sacrifício de trepar as escadas da Unidade até aos nossos aposentos, quando o conseguíamos. O Dias que conte as vezes que as subimos de cu pois, de frente, nem pensar.
Tempos…

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