sábado, 21 de março de 2009

Mais uma simpática croniqueta do António Manuel Camacho - a 5ª.

PERIPÉCIAS EM CHAVES – 5
Não foi só nas rotas do contrabando que as histórias aconteceram.
Lembro-me de uma outra que é imperdível.
Os pais do “nosso” Morais convidaram-nos para um lanche em sua casa num lugarejo perto de Alfandega da Fé, onde viviam.
Copos para aqui, presunto para ali, tudo do melhor que já me passou pelo goto e surge a oferta: - quando tiver um cabrito jeitoso e com peso a condizer, faço questão do oferecer para o vosso jantar lá no quartel.
Promessa feita e cumprida.
Um dia, o Morais chegou, acho que após um fim-de-semana, com a notícia de que o cabrito estava à nossa espera e que tínhamos que o ir lá buscar, conforme combinado.
Falámos com o cozinheiro da messe, para saber da possibilidade de cozinhar o bicho. Tudo arranjado e lá fomos, não me lembro com quem.
Só sei que, quando chegámos e contra a nossa expectativa, o animal ainda estava vivo que nem um pêro e nós a pensarmos que tínhamos a papinha toda feita.
Lá o trouxemos, atado de pés e mãos, no porta-bagagem do carro que usámos.
Chegados ao Quartel, à noite, tivemos que decidir onde é que o cabrito iria ficar até ao dia seguinte.
À falta de melhor ficou no meu quarto, dentro dum saco que era muito usual naquele tempo, género paralelepípedo, com fecho de correr em cima; ou seja, o corpo ficou todo dentro do saco e a cabeça ficou de fora, presa no fecho de correr.
Bem pode ter berrado a noite toda que ninguém ligava aos sons estranhos vindos daquelas bandas, nomeadamente daquele quarto. O historial já era longo. Haja Deus…
O pior foi na manhã seguinte.
O cabrito até se portou menos-mal. Quem não se portou como devia de ser foi o cozinheiro da messe que se atrasou a ir buscá-lo.
Foi a nossa perdição. O impedido que tratava dos nossos aposentos, talvez ressaibado com a tarefa que lhe incumbia, não fez mais se não soltar o cabrito na parada do quartel.
Nós estávamos na instrução e só ouvíamos um alarido enorme, maior ainda do que aquele que os adeptos fazem num jogo de futebol, quando o clube da casa marca um golo.
Aquilo só visto pois contado não dá a dimensão do episódio. Imaginem só a cena, com quase todos os soldados das Companhias de Comandos e Serviços, já batidos, para aí mais de trinta, na parada, a correr atrás dum pobre animal que, mal era agarrado, era logo solto para nova correria.
A brincadeira só terminou quando o bicho já não tinha forças para nada, nem para se levantar do chão, quanto mais para correr.
Claro que tivemos que ir prestar declarações ao Comandante da Unidade, mas o que havia a fazer? Mais “porrada”, menos “porrada”, já tínhamos o destino marcado que era ir malhar com os costados a Moçambique.
À noite foi comer o cabrito assado que estava delicioso, muito tenrinho e saboroso, não pela correria a que foi forçado, mas pelas mãos em que foi criado.
Obrigado Manuel e a teus Pais.

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