domingo, 15 de fevereiro de 2009

Croniquetas - António Manuel Camacho (alf. 3311)

PERIPÉCIAS EM CHAVES – 1
Nas rotas do contrabando, há algumas histórias para contar e recordar.
Nas próximas croniquetas vou relatar algumas.
O Comandante da Unidade não nos concedia licença para, legalmente, irmos a Espanha. Estava com medo que déssemos o salto para França, Marrocos ou Argélia.
Não foi isso que nos impediu de pisarmos o chão de "nuestros hermanos" inúmeras vezes. Como?
De salto, já que não tínhamos outro modo de o fazer.
Usávamos as rotas e caminhos dos contrabandistas, especialmente pelo açude.
Do lado de cá, as aldeias mais raianas eram Vila Verde da Raia, na estrada principal e, mais recatadas, Vila Meã e Vilarinho, se a memória me não falha. De lá Feces de Abaixo.
Para sairmos do País, havia sempre alguém, autorizado pelo Comandante da Unidade que, munido da licença, passava o carro legalmente. Nós apanhávamos boleia até perto da fronteira e passávamos de salto. Do outro lado, em Espanha, éramos recolhidos e, ala até Verin ou Orense.
Naquele tempo não havia o Euro. Havia o Escudo e a Peseta.
Em Feces de Abaixo havia uma taberna, para quem subia do açude no lado direito, onde trocávamos a moeda. Não me lembro do nome do taberneiro, mas era um tipo fantástico de boa disposição e tinha um vinho que nem vos digo.
Quantas vezes, estávamos nós na "Pastelaria Aurora", e aparecia alguém, com a licença passada pelo "Sarraquinhos", a perguntar se queríamos ir até Verin.
Era o que estávamos sempre à espera.
Numa das vezes, fui eu e o Albuquerque Dias.
Quando íamos numa "rosca", entre Vila Verde e a Fronteira, entrou na estrada um carro de bois.
O indivíduo que conduzia o automóvel onde íamos, um Tenente, de que não me lembro o nome, atrapalhou-se e não conseguiu travar a tempo. Fomos todos parar em cima de um monte de pedregulhos. O Albuquerque Dias foi o que ficou pior. Bateu com a testa no espelho retrovisor do veículo, que se partiu, e ficou a sangrar. Alguns dos poucos cabelos que lhe sobravam, pois já tinha umas fortes entradas, lá ficaram.
Depois disto o que sucedeu?
Quem nos tinha dado boleia ficou a tratar do assunto com o dono do carro de bois e nós, arranjámos maneira de voltar a Chaves, para tratarmos do reboque. Mal tínhamos chegado à cidade, arranjado o reboque e de volta ao Aurora, chega outro camarada a perguntar se queríamos ir até Verin. Há que dizer que a "gasosa" era a dividir por todos, o que, justificará a oferta.
Mal fora se não fôssemos, com o Albuquerque Dias a penar, com um penso na testa.
"Gandas malucos".

Sem comentários: